Para se perceber melhor, puxemos o filme atrás. Como diria o grande Toni:
A caldeirada em que te foste meter
A negociata Moutinho causou mal-estar em Alvalade. A reacção leonina, tão natural que não surpreendeu ninguém, motivou a fina ironia do arquitecto do esquema, que alegou que não tinha sido mau dinheiro por uma maçã podre. Bruno de Carvalho ripostou com a declaração que podemos ver na imagem e... assinou a sua sentença de morte. A alusão à fruta caiu mal no Porto. Muito mal. Adelino Caldeira, indisposto, recusou apertar a mão ao presidente do Sporting na final da Taça de Portugal de andebol. Bruno de Carvalho cutucou a onça com vara curta: "As pessoas vão ter de se habituar que o Sporting mudou. Quem pensa que manda no desporto estava enganado. Esta é a garra do leão, os outros que se cuidem. Começámos um novo ciclo e que os outros se comecem a habituar ao sabor da derrota. Quem pensava que mandava no desporto vai ter de começar a amargurar e a habituar-se à derrota." Isto foi o que veio nos jornais. O que não veio nos jornais – mas que A Toalha do Eusébio sabe que aconteceu – foi Adelino Caldeira ter aí mesmo prometido a segunda divisão a Bruno de Carvalho.
Cozinhar em lume brando
Como relegar o Sporting para a 2ª divisão? Não era razoável pensar que o clube iria fazer uma época ainda pior que a que resultou num 7º lugar. Mesmo com árbitros a empurrar para baixo, seriam muitos lugares até à despromoção. E a concorrência no campeonato nacional não é suficientemente forte para essa via. Não. A receita era ao contrário. Puxar o Sporting para cima. Dar-lhes colo. Fazê-los acreditar. Decidir a seu favor nos lances duvidosos. (Montero foi inocentemente precioso.) Dar com uma mão, para depois tirar com a outra. Beneficiar o Sporting numa primeira fase, como quem deixa os pardais comer o primeiro milho, para depois ninguém estranhar quando fosse preciso prejudicá-lo. Afastá-lo de todas as outras competições para que se pudesse concentrar apenas no campeonato, pois ninguém confiava no seu frágil plantel para mais que uma frente.
Nenhum pobre desconfiou de tão grande esmola?
O campeonato corria muito bem ao Sporting e muito mal ao FC Porto. Será mesmo assim? Será que um clube que luta por todos os títulos, depois de encaixar 70 milhões de euros, se reforça com um novato que treinava o Paços de Ferreira e jogadores do Paços, do Estoril, da Naval, do Guimarães? E como se deixa sair jogadores nucleares como Lucho e Otamendi, a meio da época, sem ser pela cláusula de rescisão? E como durou tanto tempo Paulo Fonseca ao leme da equipa? E como é possível que o clube que domina a arbitragem há décadas permita no Dragão uma grande penalidade que vale uma derrota? Não são equívocos a mais para uma estrutura experiente e elogiada por toda a imprensa? Ou será que foi preciso isto tudo para o Sporting encurtar distâncias?
Ó Bruno, deita-te aqui nesta cama que eu te estou a fazer!
Depois da primeira fase do plano, que deixou o Sporting a sonhar alto, era preciso desestabilizar os lagartos. Sucessivos erros de arbitragem que os deixassem à beira de um ataque de nervos. Tudo encarreirado para tornar o SCP-FCP um jogo decisivo. Chegamos ao clássico com um Sporting a perder gás e um FC Porto em ascensão. De repente, parecia que os portistas tinham reaprendido a jogar à bola. O FCP com o 2º lugar (o objectivo confesso de Jardim) à sua mercê. Bruno de Carvalho sente fugir-lhe por entre os dedos a areia fina do objectivo da época. Tinha de intervir. Só não imaginava que estava a ser magistralmente dirigido para a morte.
O basta que deu bosta
A sentir o FCP muito perto, Bruno de Carvalho faz o que seria expectável: tentar condicionar de alguma forma a arbitragem do jogo decisivo. A forma que escolheu constitui o seu erro colossal. A sugestão da criação do "Movimento Basta!", com apelo à mobilização dos adeptos dentro e fora do campo, com a ameaça de recurso aos tribunais contra os árbitros que os prejudicaram no passado e os prejudicassem no futuro, deu ao departamento jurídico do FCP os argumentos de que precisava para a estocada final. Carvalho mordeu o isco com os dentes todos. Obrigado, Bruno, foste muito prestável.
O xeque-mate em 3 lances
- Muito mais cedo do que é costume, o sistema faz saber quem será o árbitro do jogo decisivo. É um nome conotado com os favores ao FCP. Ninguém estranhou o nome, apenas o inusitado timing da nomeação. Pouco depois, Olegário alega não estar em condições para apitar. Ninguém percebeu qual foi a pressa em anunciar um árbitro que estava lesionado. Fez-se constar que Benquerença não queria chatices no último ano de carreira. Também isto é estranho, todos os árbitros desejam estes jogos. Ser no último ano de carreira ainda o tornaria mais apetecível. E que chatices estariam previstas para esse jogo?
- Para o seu lugar foi chamado o árbitro preferido do FCP. O juiz que o polvo levou ao topo do mundo. Era oficial, o clássico tinha um guião que Proença asseguraria que se cumpriria. A vitória do FC Porto? Não sejam básicos, a fina ironia tem requintes de malvadez. O jogo terminaria com a vitória do Sporting, resultante de um erro de arbitragem, e com os portistas a queixar-se.
O Sporting delira. Goza o prato. O FCP assiste, esperando apenas que o veneno do presente comece a fazer efeito. Um, dois, três... Agora!
- O FCP avança com uma queixa na liga contra o Sporting acusando-de actos para os quais os regulamentos prevêem uma pena entre a derrota (no mínimo) e a despromoção (no máximo). Sabendo como o FCP domina estes meandros (como ainda recentemente se viu no caso do atraso na Taça da Liga), o SCP acaba de qualificar-se para a Liga Cabovisão. Olegário dirá que não quis apitar o jogo porque se sentiu coagido. Proença poderá dizer que prejudicou o FCP pelos mesmos motivos. Mota dirá que marcou um penálti contra o Benfica por via das ameaças que sofreu. Xeque-mate.
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